segunda-feira, 11 de maio de 2009

"QUERO FAZER O QUE NÃO FIZERAM POR MIM"

Por Amanda Romanelli
Estado de São Paulo - 10/05/2009
São Paulo - O futuro do basquete feminino brasileiro está, desde terça-feira, nas mãos de uma das maiores jogadoras da história. Hortência Marcari, 49 anos, nunca fugiu de desafios. Mas agora, nomeada pelo presidente Carlos Nunes como líder do departamento feminino da Confederação Brasileira de Basquete (CBB), sabe que tem uma série de problemas para enfrentar. A seleção vive um dos seus piores momentos - nos Jogos de Pequim, ficou em penúltimo lugar, só à frente de Mali. Terá que lidar com problemas de relacionamento, como as farpas públicas trocadas entre a ala Iziane e o técnico Paulo Bassul - a atleta se recusou a entrar em um jogo do Pré-Olímpico, em junho, e nunca mais foi convocada. Em entrevista ao Estado, Hortência afirma que quer dar voz às atletas. E diz que, como ex-jogadora, sabe o que elas precisam: "Quero que se sintam confortáveis e com respaldo."

Como foram seus primeiros dias na CBB?
Fizemos uma reunião - eu, o presidente e o José Carlos Brunoro, do marketing - para tomar pé das coisas. Falei com a Paula e com a Janeth, com quem vou almoçar na segunda-feira (amanhã). No mesmo dia terei nova reunião com o presidente.

Vão discutir sobre a permanência do Paulo Bassul (técnico da seleção feminina)?
Não sei se falaremos sobre isso. O assunto é sério e não queremos precipitação. Vamos ouvir todos os lados, incluindo as jogadoras. Ainda não tive tempo de falar com nenhum dos técnicos (da seleção adulta e de base).

Já falou com todas as atletas, inclusive com a Iziane?
Mandei um e-mail coletivo, para todas elas. De algumas já tive resposta, mas não falei especificamente com a Iziane. Quero saber a opinião de todas. Elas são as protagonistas.

Iziane deve voltar à seleção?
Sem dúvida. Ela e o técnico tinham que ser blindados. Os dois falaram com a imprensa de cabeça quente e disso não sairia coisa boa mesmo. A Iziane é importante nesse novo processo. Não temos muitos talentos e não podemos abrir mão de um deles.

No que a Paula e a Janeth podem ajudá-la?
Joguei com a Paula na seleção por 20 anos. Além disso, ela conhece muito de gestão, dirige o Centro Olímpico (da Prefeitura de São Paulo). A Janeth também. Deixou as quadras há pouco tempo, mas coordena um time de basquete dela (que disputa os Campeonatos Paulistas de base), tem um centro de formação de atletas.

Você também tem o seu...
Sim. É o Centro de Excelência de Basquetebol. Estamos em duas cidades - Curitiba e Araucária, no Paraná - e já temos mais de 2 mil crianças em um mês e meio de funcionamento. O método de ensino é meu e tenho uma parceria com o presidente da Federação Paranaense, o Amarildo Rosa. Agora que estou na CBB, quero levar o projeto para todo o Brasil. Vamos para três cidades na região de Curitiba e também negocio no interior paulista.

Como agir na renovação do basquete feminino?
Temos uma grande defasagem, não só na descoberta de novas jogadoras, mas também de técnicos. Perdemos muito tempo. Não temos muitos talentos por falta de investimento. É preciso descobrir o novo basquete feminino.

Você parece muito empolgada com a oportunidade.
E realmente estou, porque sei que posso fazer muita coisa. Recebi a chance que sempre esperei e não posso jogá-la fora. Quero fazer tudo o que não fizeram por mim quando eu era jogadora. Sei o que um atleta precisa.

E o que seria?
Uma programação de primeira linha, com o melhor técnico, preparador físico, médico, fisioterapeuta, boa comida - e não é preciso hotel cinco estrelas. O que importa é como as pessoas te tratam, se têm respeito, transparência. O atleta precisa saber o que está acontecendo. Quero que se sintam confortáveis e com respaldo.

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