por Fabio balassiano do Bala na Cesta
É difícil de acreditar, mas aconteceu. Aquela jogadora intempestiva deu lugar a uma pessoa calma, didática e que não levanta a voz à beira da quadra. Branca, vice-campeã olímpica em 1996, e em seu segundo vôo como técnica (ela começou em Piracicaba), nem de longe lembra a menina de cabeços louros (ou brancos?) que encantava a todos e aprontava todas. Atenta e ao mesmo tempo discreta dirigindo o time de Americana (líder invicto do Nacional Feminino até o momento), ela conversou com o blog após a vitória de seu time sobre a Mangueira e deu opiniões firmes a respeito do torneio, seleção brasileira e da atual situação do basquete brasileiro. Mas não assuste, a essência dela ainda está bem presente.
BALA NA CESTA: Te surpreendeu o convite para dirigir Americana?
BRANCA: Confesso que já havia deixado o basquete um pouco de lado quando o Ricardo, diretor do time, entrou em contato comigo. Fui pega, sim, de surpresa. É muito sedutor vir treinar um elenco como este, com a estrutura que possuímos e com a tranqüilidade que me passaram.- E como é a técnica Branca? Você está muito mais para uma conciliadora do que para uma “desesperada” à beira da quadra, não?- Temos um time organizado, com variações táticas e bons valores individuais, mas que ainda peca muito na leitura de jogo (em inúmeras vezes Branca chamou as atletas, em especial as jovens Barbara e Renatinha, para um papo individual). Acho, também, que elas demoram muito para ditar o ritmo do jogo. Mas isso vem com o tempo e com os treinamentos, não tem jeito. Sou uma técnica que acredita mais nos treinos do que em qualquer coisa. Não adianta eu fazer um show aqui do lado de fora se não tiver ensinado a elas antes. Isso pode ser uma grande virtude ou um grande defeito, mas eu olho muito para o meu time. Já tive técnicos que sabiam tudo sobre os adversários, mas que esqueciam de cuidar do seu, do básico. Eu prefiro saber tudo sobre o meu elenco, e como melhorá-lo no dia-a-dia.
- Como foi essa mudança de jogadora para técnica?
- Como foi essa mudança de jogadora para técnica?
- Natural, natural mesmo. Não posso “pilhar” as meninas o tempo todo. Preciso ser polida e falar pouco. Acho que as atletas é que devem tomar as decisões dentro de quadra. Você não me verá na beira da quadra “chamando” a jogada do meu time (no intervalo, Branca analisou as estatísticas ao lado do assistente por cinco minutos antes de entrar no vestiário para uma breve instrução; em seus tempos, fala pouco; e jamais berra com o time). Fui armadora e sei que isso é péssimo para quem está comandando o time dentro das quatro linhas.
- E a relação com o Paulo Bassul, técnico da seleção feminina, que está vivendo em Americana? Ele já foi a algum jogo da equipe?
- O Paulinho foi a apenas um jogo do nosso time (contra Ourinhos), e acho que ele deveria vir em todos. Não pela cidade, mas para acompanhar o desenvolvimento das atletas que jogam no país, e em diferentes situações de jogo. Não adianta ficar atrás do computador vendo estatística. Isso é enganoso. Me causa estranheza que ele não venha ver as partidas, sinceramente.
- Falando em seleção, como você viu o desempenho em Pequim?
- O Paulinho não tem relação com as atletas dele. Isso é muito nítido. Eu, por exemplo, tenho o meu grupo na mão. A Karla, que não jogou hoje, está machucada e estou “comprando a briga dela” para que ela não agrave a situação. Elas sabem que é assim que funciona. A minha liderança não é imposta. Ela foi aceita pelo grupo, que concorda com a filosofia de trabalho.
- O caso da Iziane tem a ver com isso que você diz?
- Sim e não. A Iziane errou, mas o problema dela com o Paulinho vem de longe e nunca foi resolvido. No Pré-Olímpico o Bassul não tinha opção. Mas o fato é que perdemos uma jogadora de altíssimo nível. Outra coisa: a seleção brasileira vai para uma Olimpíada com 15 dias de treinamento, com menina se encontrando no meio do caminho e com a Érika pedindo dispensa por causa de seguro. É difícil engolir isso. O basquete ainda não é sério por aqui.
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